Crise do INSS expõe fragilidade da comunicação do governo Lula

Ministro Sidônio Palmeira enfrenta dificuldades para unificar discurso e conter danos políticos em meio a sucessivas crises

 

A sequência de desgastes enfrentados pelo governo federal – do escândalo do Pix à atual crise no INSS – tem posto à prova a capacidade de articulação e comunicação da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No centro das tensões está o ministro Sidônio Palmeira, que assumiu a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) em janeiro com a missão de renovar e profissionalizar a estratégia de comunicação do governo.

 

Apesar do acesso direto ao presidente e da presença constante no Palácio da Alvorada, Sidônio tem enfrentado entraves internos que dificultam a construção de uma narrativa unificada. Um dos episódios emblemáticos dessa desarticulação ocorreu durante a crise do INSS, quando o ministro da Casa Civil, Rui Costa, fez críticas públicas ao titular da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius Carvalho, mesmo diante de uma crescente pressão do Congresso por uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar as fraudes no sistema previdenciário.

 

A falta de uma orientação clara aos parlamentares da base aliada e as divergências dentro do governo têm alimentado a sensação de desgoverno. Deputados relatam à imprensa que não houve, até o momento, uma diretriz oficial sobre como se posicionar diante da possível CPMI. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, usou as redes sociais para dizer que CPIs são prerrogativa do Legislativo, mas ponderou que uma comissão como essa pode atrapalhar investigações e retardar a reparação aos prejudicados.

 

Sidônio, por sua vez, tem orientado sua equipe a reagir com rapidez às fake news e a conter vazamentos extraoficiais, mas até aliados do Planalto admitem que o governo continua perdendo a batalha nas redes sociais. A avaliação interna é de que o ministro enxerga os problemas da comunicação, mas que os embates políticos e as falas desencontradas dentro da própria equipe ministerial têm dificultado qualquer avanço estrutural.

 

Com eleições municipais no horizonte e a corrida presidencial de 2026 se aproximando, Sidônio defende que o governo precisa, antes de mais nada, sobreviver politicamente a 2025. A crise do INSS, portanto, é mais do que um problema administrativo: é um teste de resistência para a comunicação governamental e, possivelmente, um prenúncio das turbulências que ainda estão por vir.