Reajuste bilionário: quem paga a conta na Casan?

Enquanto o cidadão enfrenta tarifas altas e serviços questionáveis, executivos da companhia buscam salários ainda mais elevados.

 

A aprovação de um reajuste de 37% nos salários dos executivos da Casan, elevando o teto de R$ 3,8 milhões para R$ 5,3 milhões ao ano, chama atenção não apenas pelos valores astronômicos, mas também pelo momento e contexto em que se dá. Em um estado onde o saneamento básico ainda enfrenta desafios e a tarifa de água pesa no bolso da população, a decisão soa como um descompasso ético e administrativo.

 

Segundo a companhia, a proposta segue critérios de mercado, responsabilidade e desempenho. Mas quem avalia esse desempenho? Qual é o critério justo quando falamos de empresas públicas ou de economia mista que têm um papel social relevante?

 

O aumento beneficia 20 membros — diretores, conselheiros e auditores — que já recebem salários mensais superiores à realidade da esmagadora maioria dos trabalhadores brasileiros. A justificativa de que a medida fortalece a governança parece destoar da lógica de interesse público que deve orientar essas instituições.

 

Além disso, a proposta será apreciada em assembleia no próximo dia 22, num rito aparentemente regular, mas que carrega um peso simbólico e político. Trata-se de uma decisão com impacto financeiro e moral que exige maior transparência, discussão pública e responsabilidade social.

 

A pergunta que fica é: até que ponto uma empresa que presta um serviço essencial pode se dar ao luxo de reajustar salários em patamares tão elevados? E mais: que recado essa decisão passa à população, aos servidores públicos e aos consumidores que sentem, mês a mês, o aumento nas tarifas? No mínimo, é hora de abrir esse debate com mais seriedade e menos autocomplacência.